domingo, agosto 10, 2008

Culto a Maria Lionza

O Culto a Maria Lionza, muito difundido na Venezuela, tem muitos aspectos parecidos com a Umbanda.

Na verdade, creio, que as imagens poderiam confundir muitas pessoas e levarem a acreditar que se trata de alguma linha de Umbanda, tal a semelhança de ritos e influências, já que estão presentes aspectos afro-ameríndios-espíritas-católicos em suas crenças e liturgias.

O texto* a seguir resume os aspectos deste Culto:

Durante a semana Santa e o Dia da Raça (12/10), numerosas peregrinações se dirigem a Montanha da Sorte, no Estado de Yaracuy. A este lugar chegam devotos com todos os tipos de pedidos pessoais (desde cura de enfermidades a pedidos de paz, amor, etc).

O altar erguido na natureza, é presidido por Maria Lionza, que é, no mundo desta crença venezuelana, a Monarca das quarenta legiões, formada por 10 mil espíritos cada uma. Ao seu lado, colocaram Guaicaipuro, o cacique que lutou com muita valentia contra os conquistadores espanhóis no vale de Caracas e que preside a corte indígena e, do outro lado, colocaram o Negro Primero, o único negro oficial do exército de Bolívar, que preside a corte negra.**

O culto a Maria Lionza é anterior à chegada dos espanhóis ao território venezuelano.

Os índios que habitavam o Estado de Yaracuy, veneravam YARA, Deusa da natureza e do amor. De acordo com a descrição dos indígenas, ela tinha grandes olhos verdes, pestanas largas e amplas cadeiras. Seus cabelos iam até a cintura e eram enfeitados com flores.

Segundo a lenda, Yara era uma princesa indígena que foi raptada por uma enorme serpente, deusa dos rios e lagos (Anaconda/Sucuri), que dela se apaixonou. Os deuses da natureza resolveram castigar essa união, fazendo que os rios e lagos inundassem toda a terra. Assim, Yara ficou conhecida como a Deusa das lagoas, rios e cascadas, mãe protetora da natureza, Senhora do reino do amor.

O mito de Yara sobreviveu à conquista espanhola, onde sofreu algumas modificações. Yara foi coberta com o manto da Virgem cristã e tomou o nome de Nossa Senhora Maria de la Onza Del Prado de Talavera de Nivar. Assim, ficou conhecida como Maria de la Onza, ou Maria Lionza.***

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* Fonte: Grupo Nataraja

** A tradição de divinizar figuras históricas, heróicas ou de alguma outra forma importantes para determinado grupo, são muito comuns no Caatimbó, nas Tradições ameríndias e até mesmo nos Cultos de Nação. Deixo como exemplo no primeiro caso os "Mestres e Mestras de Linha"; no segundo a lenda de Aruanã e, por último, o Orixá Xangô que foi o terceiro Àlàáfìn Òyó - Rei de Oyó -, filho de Oranian e Torosi.

*** Percebam o fenômeno do sincretismo. Na verdade, assim como nos Cultos de matriz africana no Brasil, a influência católica persiste. Na verdade, Maria Lionza tem a mesma importância para os crentes venezuelanos, como Yemanjá para os adeptos da Umbanda e do Candomblé aqui no Brasil.