terça-feira, novembro 04, 2008

O PREÇO DE UM MITO

Existe um mito que vem se assentando na comunidade umbandista de forma geral, levando os incautos a acreditarem que tudo está muito bem em nosso meio, que há uma união de pensamentos e propósitos e, pior, que os que encabeçam tal movimento nada mais querem do que ver a religião fortalecida, respeitada, colocada em seu lugar (?!?) de direito.

Alguns teóricos, muito respeitados no meio por sinal, acreditam que o fortalecimento da nossa religião passa, de forma insofismável, pela assim chamada "tolerância", "respeito a diversidade", "convergência" e "pluralidade de conceitos", que a "minha" Umbanda não é melhor e nem pior que a "sua" somente diferentes, coisa que, diga-se de passagem, é de minha inteira concordância.

Porém, para estes estudiosos de notório saber sobre as coisas da "banda", a tão propalada e perseguida UNIÃO do povo umbandista, somente será possível se cada um, em maior ou menor grau, perder suas resistências à determinadas práticas, abandonar outras e, claro, adotar mais algumas.

Em resumo, cada um deve perder um pouco de sua identidade, aplaudir qualquer prática estranha à sua própria filosofia, condescender quanto aquilo que discorda, enfim, passar pelo "curral" junto com o resto do "rebanho", ser marcado à ferro como "universalista", seguir feliz da vida mesmo que isto seja uma verdadeira "curra" à sua consciência.

Nada mais contraditório e falacioso.

Pelo próprio conceito de "diversidade", podemos concluir que a idéia é convivermos com as nossas diferenças ritualísticas, doutrinárias, enfim, filosóficas. Portanto, não há sentido que violentemos nossa consciência e passemos a praticar coisas que, até bem pouco tempo atrás eram proibidas, chamadas de "coisas de kiumbas" ou, simplesmente, não que não façam parte de nossa formação religiosa.

A partir do momento que qualquer um é impelido a praticar algo que não concorda afim de ser reconhecido pelo resto da "manada", este conceito de "respeito à diversidade" e "tolerância com as diferenças" cai por terra.

Há de se entender que "tolerância" e "respeito" são palavras com significados distintos, mas dentro dos discursos dos fariseus modernos vemos que tentam dar a mesma conotação para ambas.

Tolerar quer dizer "suportar-se reciprocamente", "consentir, permitir, não impedir", enquanto o respeito é o "sentimento que leva alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande atenção, profunda deferência; consideração, reverência", mas também o "modo pelo qual se encara uma questão; ponto de vista".

Como base nestes conceitos, chegamos a conclusão que podemos encarar algo de forma adversa, ter nosso próprio ponto de vista sobre qualquer assunto sem, contudo, ferir a visão de meu próximo, assim como não consentir ou pactuar com aquilo que achamos reprovável em seus pensamentos e atitudes.

Ademais, como vivo a repetir neste espaço, tolerância não deveria nem mesmo ser mencionada neste conceito, já que nenhum de nós, em um país livre, deve permitir ou consentir que outrem pratique, fale, escreva ou viva da forma que llhe for conveniente, desde que dentro da legalidade, especialmente, esteja pronto para responder pelos excessos de tal liberdade.

Na verdade, os defensores de uma "tolerância" religiosa, sexual, social, nada mais são do que pequenos ditadores que se arrogam ao direito de dizer o que alguém pode ou não fazer e isto está patente em nossa sociedade.

Os homossexuais, levantam a bandeira da "tolerância" às suas práticas, forçam para que seja aprovada uma Lei draconiana, onde a liberdade deles está garantida, mas que ao mesmo tempo poda a liberdade de quem é contrário à prática.

Ao seu turno, os praticantes dos cultos de origem africana clamam pela liberdade religiosa, em ver o seu sagrado direito de culto e manifestação respeitados e, claro, tolerados, pelos demais setores da sociedade, mas ao mesmo tempo impõem uma ditadura ecumênica onde aqueles que não coadunam com ela se tornam párias.

Sem nos esquecermos, é claro, dos "pontas de lança" deste e daquele "formador de opinião", que ficam, à exemplo dos "homens dedo" da ficção "V de Vendetta", a controlar o que se fala, escreve, publica contrário às idéias de seus "mestres", dos quais são passíveis capachos, não titubeando, por um minuto sequer, em usar de recursos imorais e ilegais para atingir os "infiéis" e seus demais desafetos.

Dentro desta "umbanda" de hoje em dia, a tal "convivência pacífica" é esquecida ao menor sinal de resistência, questionamento ou oposição.

Os evangélicos, por sua vez, atacam outras religiões abertamente em seus veículos de comunicação, em seus cultos, mas quando são alvo de alguma denúncia, de algum ato criminoso e de intolerância (olha a palavrinha ai de novo...) colocam a "boca no trombone", posam de vítimas e perseguidos.

Perceberam?

Todos querem respeito aos seus próprios ideais e práticas, mesmo que para isto tenham de restringir a liberdade alheia.

Este grande mito que nasceu e está crescendo diante de nossos olhos, baseado em frases como "se não temos a última pergunta, não podemos ter a última resposta" e que chegou o momento da "não crítica", as quais, diga-se de passagem, não passam de sofismas, nada mais é do que uma forma velada de controle da massa umbandista formada, em sua maioria, de pesssoas ávidas por reconhecimento, diplomas na parede, cargos e títulos, que não hesitariam, de certo, a declarar um "papa da umbanda".

Toda esta mobilização, todos estes sofismas que nos bombardeiam dia-a-dia, com a adesão de respeitáveis Umbandistas, nada mais é do que a preparação para uma dominação política-administrativa da Umbanda, disto não tenho dúvida alguma. Hoje se fala em união sem codificação, para em um amanhã não muito distante, os "pluralistas" convencerem a massa de que o comando centralizado da Umbanda, à exemplo de outras religiões, é "urgente e benéfico".

Para encerrar, frente a propagação de que chegou o momento da "não critíca", deixo aqui a minha visão nas palavras Immanuel Kant:

"A nossa época é a época da crítica, à qual tudo tem que submeter-se. A religião, pela sua santidade, e a legislação, pela sua majestade, querem igualmente subtrair-se a ela. Mas então suscitam contra elas justificadas suspeitas e não podem aspirar ao sincero respeito, que a razão só concede a quem pode sustentar o seu livre e público exame."